quinta-feira, 8 de março de 2012

Cabo de Guerra

Lembra da brincadeira de cabo de guerra? Aquela que você finge que vai puxar a corda com toda a força e na hora "H" você a solta para seu adversário cair de bunda no chão.

Vamos imaginar, no entanto, que ela está sendo praticada da forma certa, e mais, dentro da sua cabeça. Psicanalistas, psiquiatras, psicólogos, filósofos, religiosos, místicos, alquimistas e tantos outros sempre tentaram segmentar a nossa cabeça. Não como o Hanibal Lecter em pedacinhos físicos, mas como Freud, em pedacinhos conceituais.

O pai da Psicanálise, Sigmund Freud, adotou uma metodologia interessante. De um lado do cabo de guerra ele colocou o Id. O Id é aquela voz interior que te diz para atacar o bolo inteiro, render-se aos prazeres da carne tanto a carne para alimentação quanto aquela outra... e para soltar a corda para seu adversário bater a bunda no chão. Enfim, o Id é aquela diabinha gostosa de biquini ou aquele diabão musculoso de sunga (dependendo do gosto de cada um), puxando a corda para um lado.

Do outro lado da corda claro que temos que ter o anjinho, todo vestido e comportado. A ele, Freud deu o nome de Superego. É a voz oposta que te diz que se você comer o bolo inteiro você vai passar mal e engordar, que a carne faz mal (ou bem demais...) e que você não pode soltar a corda pois é contra a regra do jogo, mesmo que isto signifique bater sua própria bunda no chão.

Cada vez mais acho que Freud tinha alguma "treta" com a mãe dele, pois, segundo seus estudos o Superego nasce das noções de autoridade, hierarquia e dos sentidos de certo ou errado, implantados pelas mães na infância. Já o Id seria a criança original, sem este discernimento.

Observando o meu filho Victor e suas 5 bananas diárias, os pratões que ele bate nas refeições e os petiscos nos intervalos, tenho certeza que o Id existe, e na cabeça dele o Id deve estar pisoteando a cabeça do Superego, mas tudo bem, afinal ele ainda é criança de fato e de direito.


Mas existe, na visão de Freud, um terceiro elemento, o Ego. O Ego é o juiz da nossa brincadeira de cabo de guerra. É ele que fica observando se a fitinha no meio da corda passa do ponto que dá a vitória a alguém.

Como o Ego faz isso? Ele dá uma olhada ao redor, pois o que o meio externo espera pesa muito na decisão. Se mais pessoas vão compartilhar do bolo, ou daquela carne saborosa, não vamos atacar de uma vez, certo? O que está ao redor, portanto, é a primeira coisa para a qual o Ego vai olhar.

Nem tudo o que o Id te diz para fazer é errado, assim como nem tudo o que o Superego te diz para não fazer é certo. O Ego nesta história decide o que sai da cabeça e vira realidade e o que fica lá dentro remoendo e fazendo você ficar paranoico. Tudo baseado no que o meio ao nosso redor diz e nas nossas experiências anteriores.

Você nunca vai entender de onde vem os desejos do Id. Ele é aquele programa que já vem de fábrica na tua cachola, portanto, você vai conviver com ele a vida toda. Já o Superego pode mudar constantemente. Para ilustrar isso, uso uma frase do filme Advogado do Diabo que diz mais ou menos o seguinte:

"A culpa, é um pesado saco de tijolos que levamos nas costas. Tudo o que temos a fazer é largá-lo."

O Superego age pesadamente a partir do mecanismo da culpa, das "consequências nefastas" de dar vazão ao Id que é nossos instintos, desejos, aquilo que nos satisfaz. Quando largamos o saco, festa! Quando decidimos carregá-lo, trabalho...

Cada decisão numa dieta, por exemplo, é um round na disputa de cabo de guerra entre o Id e o Superego. O esforço da disputa sempre vai existir e não há como fugir. No entanto, a boa notícia é que você mesmo (ou seu Ego) decide o lado vencedor.

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